Thursday, November 23, 2006

FHC vê fraqueza moral em Lula e duvida de diálogo

Para ex-presidente, antes de abrir conversa, é preciso esclarecer escândalos de corrupção e compra de dossiê

Elizabeth Lopes

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso impôs ontem condições para a abertura de diálogo entre o PSDB e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Fernando Henrique, antes de qualquer conversa, é preciso que sejam esclarecidos os escândalos que envolvem o governo. 'Houve muito desmando, muita corrupção e muita tentativa de compra de dossiê. Isso tem de ser esclarecido. Sem isso, como é que o presidente vai ter força moral para conversar conosco?', indagou, em entrevista à Agência Estado, após se reunir com a governadora eleita do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), em São Paulo. 'Isso foi só por causa da campanha? Aquilo não era verdade? Se não for verdade, tem de mostrar que não era verdade. E, se for, tem de punir. São condições necessárias para que possa haver um diálogo mais correto entre os dois partidos.'

Na avaliação do ex-presidente, quando Lula chama os tucanos para uma conversa, também é preciso avaliar o que se vai discutir. 'Se houver um ponto importante, conversamos. Agora, só para tomar café, não, porque isso leva a ilusão ao povo de que estamos pensando a mesma coisa, quando não estamos', afirmou. 'No dia em que o governo tiver alguma coisa concreta para levar ao Congresso, aí sim, vamos discutir como brasileiros, abertamente.'

Fernando Henrique afirmou que o PSDB nunca fez uma oposição destrutiva e, por essa razão, votará as matérias de interesse do País. Lembrou, contudo, que os tucanos não pensam igual ao PT do presidente reeleito. 'O PSDB sempre foi um partido com uma visão muito clara do que quer, e ela não é igual à do PT, é diferente', afirmou.

Indagado sobre qual seria o limite da oposição que os tucanos pretendem fazer ao governo no segundo mandato de Lula, respondeu: 'Depende do que o governo faça. Se for por um caminho bom, a oposição não vai ficar destruindo. Mas, se for por um caminho mau, ela vai se opor com força.'

OBSESSÃO

Além de destacar as condições que considera necessárias para um diálogo com seu partido, Fernando Henrique também rebateu as críticas feitas anteontem por Lula aos tucanos e, especialmente, à sua gestão. 'O presidente Lula tem essa obsessão, mas deixa essa obsessão só do lado dele. Isso é problema que a mim já não afeta mais.'

Na opinião do ex-presidente, seu sucessor já disse muita coisa e continuará dizendo. 'Mas o povo já sabe o que ele pensa e o que nós pensamos. E o PSDB já chegou ao coração dos eleitores.'

Fernando Henrique falou também sobre o fato de o presidente não ter enviado, ainda, nenhuma reforma ao Congresso. 'É natural, a eleição foi recente, ele ainda está envolvido na formação do novo ministério', comentou.

A respeito da formação da nova equipe de governo, o ex-presidente se esquivou: 'Isso não é problema nosso, não temos de conversar sobre esse assunto.' O ex-presidente disse, ainda, não acreditar que o segundo mandato de Lula seja mais transparente do que foi o primeiro. 'Eu não acredito, mas espero', disse.

De calça curta

Editorial - O Estado de S. Paulo, 23/11/2006

Logo no começo do governo Lula, o governador mato-grossense Blairo Maggi – e não “Magri”, nem “Bagre”, como o presidente chegou a chamá-lo em discurso, anteontem – saiu acabrunhado de uma reunião no Planalto. Disse que se dera conta da imensa distância entre as palavras (as intenções do presidente) e os atos (a sua capacidade de transformá-las em realidade). Seria interessante saber o que pensa o maior plantador de soja do País depois de ouvir as palavras com as quais Lula reconheceu o que já ficou patente para observadores de diversas tendências: ele continua convencido de que governar é fazer discursos.

O presidente foi a Mato Grosso a pretexto de inaugurar uma usina de biodiesel e um trecho pavimentado de 14 km, pronto há três meses, de uma estrada federal cujos 280 km restantes ainda são de terra. Na verdade, ele não escondeu que o motivo que o levou às paragens de Sapezal, para a festa da estrada, e às de Barra dos Bugres, para a da usina, foi demonstrar gratidão a Maggi, o único líder rural que o apoiou na reeleição (e, ainda assim, só no segundo turno). Em clima de palanque, o seu hábitat natural, fez três discursos, um dos quais não programado. Afinal, como explicaria depois aos jornalistas, “já que tinha um microfone e tinha gente, vamos falar”.

Mas o pior foram as coisas que disse em seus discursos – a começar pela confissão que deve ter deixado aturdido o seu anfitrião empreendedor. Pois, quase chegando ao fim dos seus primeiros quatro anos na chefia do Estado, Lula admitiu não ter a mínima idéia sobre o que fazer para cumprir o que de mais importante prometeu em sua campanha reeleitoral: a promoção do desenvolvimento em ritmo muito mais acelerado do que o conseguido até agora. Ou, conforme a sua própria expressão, “destravar o Brasil”. Como? “Não me pergunte o que é ainda, que eu não sei, e não me pergunte a solução, que eu não a tenho, mas vou encontrar.” Ele até marcou data para esse momentoso encontro: 31 de dezembro.

Pelo visto e ouvido, é disso que se trata: de tanto ser candidato, antes, durante e, pelo jeito, depois do seu primeiro período no Planalto, o presidente da República, no íntimo dos íntimos, não se percebe como tal e marca para a véspera de sua nova posse o prazo final para a descoberta da fórmula do verdadeiro espetáculo do crescimento, já que o outro, por ele antecipado em 2004, não foi exatamente... espetacular. Depois dessa, fica-se sem saber sobre o que ele “vai conversar com todo mundo”, como repetiu que vai fazer. Com os que, como o PMDB, querem cargos no governo, com certeza sobre quantos serão e quem os ocupará. Mas, e com a oposição? Para que políticas pedirá apoio?

E que razões haverá para confiar em que, no máximo até o derradeiro dia de 2006, o Altíssimo, na sua infinita bondade, abençoará a sua criatura com a iluminação que lhe sonegou até agora? Se, novamente nas suas palavras, a crise do setor agrícola o apanhou “de calça curta”, e nessa constrangedora situação está diante da crise do crescimento minimalista do País, o que precisará acontecer para cobrir a seminudez da sua escassez de idéias sobre os meios para os fins desejados pela sociedade inteira? E não é apenas em relação à gestão da economia que Lula está pedindo um tempo, como se diz. O mesmo vale para a negociação política, cuja pilotagem ele avocou a si, temerariamente.

Perguntado sobre o seu palpite infeliz de criar um conselho de ex-presidentes, repetiu a receita: “Eu não sei. Me deixe trabalhar que eu vou pensar direitinho no que eu vou fazer.” Aliás, o estudioso da psique humana que se der ao trabalho de fazer a anatomia da sintaxe lulista com toda a probabilidade logo identificará o seu apreço excessivo pelo pronome que ressalta o emprego dos verbos na primeira pessoa do singular. Depois da eleição Lula passou a ser o mais egocêntrico dos presidentes brasileiros. E em Mato Grosso, lembrando críticas recebidas de agricultores, dispensou o pronome para falar de si próprio na terceira pessoa: “Houve um tempo em que disseram que o presidente Lula não gostava da agricultura...”

Ainda intoxicado com o triunfo nas urnas, ele se crê capaz de dissolver pela palavra os problemas do Brasil. Ele confessou que não gosta de governar: “A gente não deveria falar governar, deveria falar cuidar. Eu tenho de cuidar das pessoas pobres desse país.”

Pobres ou não, felizes seriam os brasileiros se isso bastasse.

Monday, November 20, 2006


Acho que essa foto diz tudo.

Conselhão para o despreparado

Li hoje que Nosso Guia pretende criar um Conselho de ex-Presidentes da República e chamar Sarney, Collor (!), Itamar e FHC para participarem.
Objetivo do Conselho: aconselhar (!) Nosso Guia sobre questões do País, particularmente as que versam sobre nosso desenvolvimento econômico.
Agora sim.
Somos governados por um incompetente admitido. Com esse ato, reconhece que não tem competência pra pensar sobre o País. É um burro e incompetente admitido. E vai chamar, dentre os outros, aquele do qual sabe que é pior: FHC.
Não é irônico que ele convoque seu nêmesis para aconselhá-lo?
É muita incompetência.

Friday, November 17, 2006

Colher sem plantar

Ao contrário do título do editorial, entretanto, acredito que algo está sendo plantado: é a semente do descontrole fiscal e inflacionário. Geralmente essa semente dá frutos a médio prazo, algo como quatro ou cinco anos. Como nesse período Nosso Guia já estará longe de Brasília (e possivelmente esquecido pra nunca mais aparecer), ele pouco se importa com a herança (essa sim, maldita) que vai deixar.

E ao que parece, também seus eleitores, que preferem a festa hoje ao crescimento de amanhã.

Só é preciso fazer uma análise pedestre de economia pra saber que o que vai ser feito daqui para a frente, nos próximos quatro anos, coisa boa não vai dar.

Editorial, Estado de S. Paulo, 17/11/2006.

Se alguém ficou preocupado com as promessas mirabolantes e com as bondades eleitorais do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, prepare-se para o pior: ele parece levar a sério o que disse nos palanques. Na reunião de terça-feira com ministros e técnicos da área econômica, o presidente não quis saber de contenção de gastos nem de medidas graduais para estimular a economia, além disso, recusou-se a ouvir uma exposição sobre reforma da Previdência. Só aprovou uma proposta, a de aumento de gastos do Projeto Piloto de Investimentos (PPI), e cobrou medidas mais audaciosas para promoção do crescimento. Ele tem pressa de colher os frutos políticos da expansão econômica, mas nenhuma, ou quase nenhuma, disposição de plantar as sementes. Isso é o que mostram as descrições da reunião em seu gabinete.

Não haverá crescimento econômico duradouro sem um sério programa de arrumação das contas públicas, nem as contas serão arrumadas sem uma nova reforma da Previdência. O presidente da República e alguns companheiros têm repetido que já se fez o suficiente, no primeiro mandato, para pôr em ordem as contas de governo e domar a inflação. Estão errados - se é que acreditam mesmo nessa fantasia. O que se fez foi criar um superávit primário baseado principalmente em aumento de impostos. Só estão certos ao defender a redução da carga tributária para dar mais fôlego ao setor privado. Mas levarão o País a um desastre, se cortarem os impostos sem conter a gastança promovida nos últimos anos e exacerbada com as bondades eleitorais.

Segundo a fantasia do presidente, será fácil fechar os buracos das contas públicas, incluído o rombo da Previdência, desde que a economia cresça em média 5% ao ano durante uns dez anos. A expansão econômica ampliará o emprego formal e as contribuições previdenciárias. Esse mesmo crescimento fará declinar a relação entre a dívida pública e o PIB.

Para que essas previsões se confirmem, será necessária a revogação das leis da aritmética. Como isso não poderá ocorrer por Medida Provisória, será indispensável a intervenção do Criador. Se, no entanto, a aritmética permanecer em vigor, não haverá como cortar impostos, aumentar os gastos e ao mesmo tempo reduzir a relação dívida/PIB.

O crescimento econômico duradouro só pode ser uma conseqüência de uma boa combinação de impostos menores e maior disciplina fiscal. Não pode ser uma condição do próprio ajuste, mesmo porque a prosperidade econômica não depende somente de fatores internos. É preciso levar em conta as condições internacionais do comércio e das finanças.

Tomar como hipótese um crescimento de 5% ao ano é violar as normas elementares do planejamento. Nenhum plano ou projeto elaborado com alguma seriedade é baseado na hipótese mais favorável. Se assim fosse, qualquer orçamento empresarial só daria certo por sorte ou milagre e nenhuma represa resistiria a uma chuva um pouco mais forte. Quem aposta no crescimento de 5% durante vários anos para ajustar as contas do Tesouro e da Previdência comete essa infantilidade.

O contrário é verdadeiro: serão precisos alguns anos de contas ajustadas para o País começar a crescer 5% ao ano.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva baseou sua campanha eleitoral em bondades que inflarão as despesas públicas e em promessas de mais dinheiro, mais oportunidades e mais prosperidade para a maioria da população. Fez promessas de colheita sem plantio, como se os benefícios não tivessem custos e não fosse preciso cuidar de velhos desajustes.

Se o presidente não quiser enfrentar a realidade, poderá até promover algum crescimento, afrouxando a política fiscal e talvez forçando a redução dos juros. Mas a realidade se imporá, num prazo não muito longo, e seu sucessor encontrará um país novamente em desordem. Esse, sim, terá motivos para falar de uma herança maldita.

Se quiser fazer algo sério, o presidente Lula terá de encarar, preliminarmente, alguns fatos desagradáveis. Terá de reconhecer que a inflação não foi eliminada para sempre, embora tenha sido mantida sob razoável controle. Terá de admitir que as contas públicas continuam precárias e que até pioraram com as bondades eleitorais. Se aceitar esses pontos, e se der mais atenção aos melhores conselheiros, poderá abrir caminho para um crescimento econômico seguro.

Thursday, November 16, 2006

Presidencialismo não é consenso

Querer fazer reunião com 27 governadores e tentar resolver alguma coisa por consenso é a mesma coisa que tentar acertar com 27 pessoas o quanto cada uma vai ganhar de salário: nunca vai dar certo.
Quem elegeu Nosso Guia o elegeu pra ver se ele resolve alguma coisa. Mas parece que ele não vai resolver nada.

Dora Kramer, Estado de S. Paulo, 16/11/2006, A4

Manchete da edição de ontem do Estado informa que o presidente Luiz Inácio da Silva pretende convidar os governadores eleitos e reeleitos em outubro para participar do programa econômico a ser posto em execução em 2007. Louvável como intenção, a idéia é daquelas fadadas a cair no vazio sem gerar conseqüência prática.

Por um motivo muito simples: compartilhar programa econômico com os 27 governadores é mais ou menos como querer governar em regime de assembléia permanente - não leva a nada e paralisa decisões.

Se a proposta for levada adiante, não passará de um lance de efeito. É claro que a maioria dos governadores vai aceitar correndo, mas cada um levará consigo debaixo do braço sua própria pauta de reivindicações e no tocante à reforma tributária só vão querer saber de pleitear uma repartição mais equânime da arrecadação de impostos, hoje com uma concentração da ordem de 82% nas mãos da União.

O governo federal estará disposto a abrir mão de dinheiro? Nem este nem qualquer outro. Sempre dão, aos Estados e municípios e também ao cidadão, a mesma resposta dada agora pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega: no futuro, talvez.

Portanto, se o presidente Lula não tiver sua própria proposta, não disser que política é essa 'mais ousada' que propugnou quando considerou 'tímidas' as sugestões feitas por sua equipe econômica na reunião de segunda-feira, estará abrindo mão de sua condição de árbitro no ato de governar e, no lugar de conduzir o debate, acabará sendo conduzido por ele. E para não chegar a lugar algum, além de uma discussão longa, desgastante e sem conclusão.

Política econômica é tema sensível e importante o bastante para não ser objeto de intenções difusas e palavras vãs como as que acompanharam a rejeição do presidente às orientações da equipe econômica. Ele quer 'crescer' de qualquer jeito, propôs para isso 'ousadia', mas não explicou exatamente o que quis dizer nem os participantes da reunião pareceram saber qual mesmo seria a alternativa à receita atual.

É possível que haja, deve haver. Mas para que seja encontrada é preciso mais que um discurso enfático.

Dois exemplos: o Plano Real só virou alguma coisa objetiva depois de um ano de discussões intensas de um grupo de economistas postos para pensar; outro exemplo, não tão bem-sucedido como aquele, é o da reforma tributária, alvo de muitos debates e detalhados estudos durante os dois anos da Assembléia Nacional Constituinte, ao fim dos quais chegou-se a um modelo imperfeito.

Não será transferindo a tarefa para os governadores - cada qual preocupado com o interesse de seu Estado - que o governo federal obterá resultado melhor.

Chegará, no máximo, próximo ao molde do inútil Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social criado em 2003 com a expectativa de ser o grande fórum de participação da sociedade nas decisões do governo e resultou em nada.

A última reunião do chamado 'Conselhão' aconteceu no início da semana para discutir uma proposta de reforma política e chegou a duas conclusões: a convocação de um novo encontro para dezembro e a constatação de que o debate precisa ser ampliado. Que tal?

O mesmo ocorrerá com o fórum de governadores se o presidente levar adiante a idéia de fazer da política econômica uma pauta a ser debatida em regime de assembléia permanente de interesses conflitantes.

Wednesday, November 15, 2006

Conselho Eleitoral da Venezuela vê intervenção grosseira de Lula no país

Nosso Guia não quer governar. Ele vive de palanque. Nem que seja de ditadores. Mas tem presidente que é muito ignorante pra saber sobre ditadura, história política etc. Tem presidente que nem ler gosta!!
Eu gostaria de saber se ele vai fazer ALGUMA COISA COM O APAGÃO AÉREO!! É O GOVOERNO DO APAGÃO AÉREO. DEIXA O HOMEM TRABALHAR!!! CADÊ???? CADÊ O TRABALHO, PT??? CADÊ O TRABALHO, PETISTAS??? SERÁ QUE O AVIÃO DO NOSSO GUIA SE ATRASOU PRA IR E VOLTAR DA VENEZUELA???? ELE ESTAVA LÁ, CHORAMINGANDO PELA ENÉSIMA VEZ, ENQUANTO A GENTE FICAVA OITO HORAS NO AEROPORTO ESPERANDO O AVIÃO SUBIR.

Das agências AP, AFP e EFE

O apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à candidatura de seu colega venezuelano, Hugo Chávez, para a eleição de 3 de dezembro, foi criticada por Vicente Díaz, um dos diretores do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela. Ele considerou as declarações de Lula, durante visita a Ciudad Guayana, segunda-feira, uma 'intervenção grosseira nos assuntos internos' de seu país. 'O presidente do Brasil não tem nada que vir opinar sobre as eleições da Venezuela. Isso tem de ser condenado por qualquer cidadão venezuelano que se respeite', afirmou Díaz, em entrevista à televisão estatal, estendendo a reclamação ao parlamentar do PP espanhol Jaime Mayor Oreja, que criticou Chávez na semana passada, quando esteve em Caracas. 'Nós não queremos aqui nem os Estados Unidos, nem os cubanos, nem os brasileiros, nem os espanhóis dando opinião sobre assuntos que são estritamente venezuelanos', acrescentou.
Na segunda-feira, Lula agiu praticamente como cabo eleitoral de Chávez em Ciudad Guayana, ao participar com ele da inauguração de uma ponte rodoferroviária sobre o Rio Orinoco, construída pela Odebrecht.
Num palanque, diante de 30 mil pessoas, Lula declarou que, assim como o presidente venezuelano, tornou-se 'vítima da incompreensão e do preconceito' da imprensa, do empresariado, dos banqueiros e de ex-governantes durante as eleições.
Lula disse que na sua primeira viagem oficial à Venezuela, em 2003, ficou impressionado com as 'agressões' da imprensa local a Chávez. 'Jamais imaginei que isso podia acontecer no Brasil. E aconteceu o mesmo, querido companheiro', discursou. 'O que mais consolidou a minha consciência de que nós estávamos certos é que o povo reagiu no momento certo. E o mesmo povo que elegeu a mim, que elegeu Néstor Kirchner, o Daniel Ortega, o Evo Morales, certamente irá te eleger presidente da Venezuela', completou. Chávez discursou como presidente eleito e prometeu retribuir a visita a Lula, indo ao Brasil em 7 de dezembro.
Ontem, Díaz avaliou que esse tipo de declaração cria um 'ruído' nas relações entre a Venezuela e o Brasil. 'O que vai acontecer se quem ganhar esta eleição não for o candidato que Lula apoiou?', questionou o diretor do CNE. 'Esse candidato teria uma opinião muito particular de um Estado que é nosso vizinho e vai continuar sendo nosso vizinho eternamente, e que se manifestou a favor de uma das candidaturas.' O Conselho Nacional Eleitoral, que tem cinco diretores, é encarregado de organizar e fiscalizar todas as eleições na Venezuela. Criado pela Constituição de 1999, o CNE é autônomo, independente de Legislativo, Executivo e Judiciário. Vicente Díaz é o diretor mais próximo da oposição.
O candidato oposicionista, o empresário Manuel Rosales, também reagiu com indignação às declarações de Lula. Para ele, o discurso mostrou a 'falta de respeito' com que a Venezuela administra suas relações internacionais. 'O que a Venezuela faz com outros países, dirigentes de outros países vêm fazer com a Venezuela', reclamou. 'O certo é que nem Lula salvará este governo, nem todos os presidentes que venham aqui falar bem dele para um povo que sabe que há saldo negativo em todos os setores', afirmou Rosales. Luis Emilio Rondón, do comando de campanha do oposicionista, classificou as declarações de Lula de 'uma ingerência indevida e grosseira.' A visita de Oreja e outros parlamentares do PP espanhol a Caracas, também criticada por Díaz, foi justamente para apoiar o candidato de oposição.
As pesquisas mostram uma sólida vantagem de Chávez.
Na própria segunda, outro integrante do comando de campanha de Rosales, Enrique Ochoa Antich, também já reclamara de Lula. 'Não conseguimos entender por que democratas como Lula não percebem o verdadeiro Chávez. Pessoas como eu, que pertencemos a vida toda à esquerda, estamos sofrendo com o governo de Chávez, antidemocrático e totalitário', disse Ochoa. 'Essas declarações de Lula doem muito.'

Palavras ao vento. Ou não?

Nosso Guia dando vexame e envergonhando o país. Mas isso não é novidade.

Editorial, Estado, 15/11/2006, A3.

Falando de sua saída do Planalto e do quadro político nacional, o ex-ministro de Comunicação do governo e ex-coordenador do seu Núcleo de Assuntos Estratégicos Luiz Gushiken disse ao Estado que, “depois de uma campanha como essa, o País precisa de tranqüilidade”. E, com a oposição concentrada em lamber as feridas da derrota eleitoral e em tatear os incertos caminhos do seu futuro, e com os políticos em geral numa corrida desembestada para ver quem adere com mais entusiasmo ao presidente reeleito, tudo contribui para que a tranqüilidade reine. Tudo, menos quem deveria ser o maior interessado nela: o presidente reeleito, Luiz Inácio Lula da Silva.

Na mesma segunda-feira em que Gushiken assegurou que ele “está oferecendo a concórdia”, em um comício pró-Chávez, na Venezuela, Lula soltou o verbo contra a imprensa nacional, os banqueiros e o empresariado - que, aliás, como a esquerda petista, só critica a política monetária de juros altos. O pior da catilinária lulista, como semeadura da discórdia, foi a falsificada comparação dos climas eleitorais nos dois países e a impropriedade de se equiparar a Chávez no papel de vítima de preconceitos e incompreensões. Nada disso se justifica - e tudo isso inquieta -, mesmo porque, oficialmente, Lula foi a Ciudad Guayana não para dar uma força ao seu “querido companheiro” venezuelano, que, evidentemente, não precisa dela, mas sim para tratar de assuntos sérios do interesse de ambos os países.

Nem mesmo tendo em mente que o palanque aceita tudo, e que esse é o espaço público no qual Lula mais se sente em casa para dizer o que lhe der na telha, se pode fazer de conta que foram apenas palavras ao vento. A começar pelo que ele afirmou sobre a mídia.

Lembrou de sua surpresa, há três anos, diante da contundência dos ataques da TV privada venezuelana a Chávez - que dividiu o seu país de alto a baixo. “Eu jamais imaginei que isso pudesse acontecer no Brasil”, comentou. “E aconteceu o mesmo.” Em campanha eleitoral, mesmo que não seja a sua própria, ele não abre mão daquele “direito de mentir” inventado pelo governador eleito da Bahia, Jaques Wagner. Na verdade, Lula sofreu na campanha uma única investida, não da imprensa, mas do adversário Geraldo Alckmin, no primeiro dos debates televisivos. Nas sabatinas a que foi submetido por jornais e emissoras, nenhum dos entrevistadores, mesmo nas perguntas mais embaraçosas, chegou perto de agredi-lo, para repetir o termo que ele usou anteontem.

Se Lula de fato considera agressão pessoal falar-se dos escândalos éticos de sua gente, do Waldogate ao fracassado golpe do dossiê contra os tucanos em São Paulo, está na hora de ele fazer uma “auto-reflexão”, como sugeriu aos jornalistas o mal-humorado presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia. Há um abismo, repita-se, entre o radicalismo da mídia venezuelana, pró e contra Chávez, e a conduta dos órgãos da mídia brasileira, especialmente a TV, em relação a Lula. Mesmo quando ele sustenta que na raiz da oposição a ambos está o preconceito, é menos do que meia-verdade.

No Brasil, quaisquer que sejam as razões objetivas das críticas ao presidente, é fato que a elas se agrega algum grau de preconceito contra o migrante nordestino, operário e dirigente sindical que chegou aonde chegou, embora insignificante demais para interferir na sua trajetória vencedora. Já na Venezuela, a história é outra. Não existe preconceito contra Chávez. Existe uma legítima desconfiança - que ele só faz justificar - contra um coronel que liderou uma tentativa de golpe militar e que depois teve a dúbia distinção de levar o seu caudilhismo a extremos inauditos no país.

É de perguntar se Lula fala o que não deve, disseminando a intranqüilidade, por mera incontinência verbal ou se o seu destampatório é peça de algum projeto inconfessável cujo êxito depende da existência de um clima de intranqüilidade. Custa crer que seja esta a motivação de Lula, antes de mais nada porque ele não tem motivo nenhum para isso, depois da consagradora votação no segundo turno e de ter o seu governo alcançado índices recordes de aprovação. Não obstante, nunca se sabe.

O fato é que Lula saiu das urnas com as mãos estendidas em reconciliação com a imprensa, mas, por atos e palavras, o esquema petista de poder não perdeu ocasião de fazer o contrário. Agora, a fala do presidente sugere que o morde-assopra cedeu a vez ao morde, apenas.

Desvio de função

Dora Kramer - Estado, 15/11/2006, A6

No lugar de se prestar a ser usado de novo por Hugo Chávez, desta vez como cabo eleitoral, o presidente Lula faria um bem à sua biografia e ao destino do segundo mandato se se dedicasse a entender o que se passa de fato no sistema de tráfego aéreo, a fim de fornecer à população a explicação - e, se possível uma solução - que nem a Aeronáutica nem o Ministério da Defesa conseguem dar para os constantes, e pelo visto perenes, atrasos de vôos nos aeroportos dos quais tanto se orgulha.
Se o presidente ainda não percebeu, não se trata de um assunto atinente às necessidades das 'elites'. São negócios adiados, tarefas não cumpridas, urgências canceladas, o turismo prejudicado, milhões de pessoas na condição de verdadeiros reféns de uma crise envolta em mistérios sobre os quais o governo federal não demonstra empenho em lançar luz.
Lula age como se não fosse com ele, como se o assunto não guardasse relação com a gestão governamental, como se o transporte aéreo não fosse uma questão de Estado e de segurança nacional num país das dimensões do Brasil.
As justificativas apresentadas até agora são mais que insuficientes, configuram-se pueris. Por exemplo: se, como diz a Aeronáutica, o problema é de falta de pessoal e de aumento do tráfego aéreo, por que os vôos saíam no horário até 20 dias atrás? O que houve nesse período? Se a obediência estrita às normas de segurança provoca tal desorganização no serviço é sinal óbvio do, até então, estado permanente de insegurança dos vôos. Sob o gentil patrocínio do poder público.
Com seu destino político resolvido, na primeira etapa da crise, o presidente fez uma reunião, exigiu providências e foi à praia de Aerolula, enquanto milhares se estressavam em aeroportos para viajar no feriado de Finados.
Na segunda, Lula estava no palanque de Chávez esbravejando contra a 'incompreensão e o preconceito' sofridos por ele por parte da imprensa, dos banqueiros, do empresariado e de ex-governantes, no intuito de desenhar identificação e proximidade com seu candidato à eleição presidencial da Venezuela. Candidato a um terceiro mandato, diga-se.
O presidente Lula faria um bem à sua biografia e ao destino de seu segundo mandato - que ficará para o registro da história - se descesse dos palanques, nacionais e internacionais, e dedicasse tempo e atenção ao cotidiano dos brasileiros. De todos, mas principalmente daqueles que o reelegeram acreditando na mistificação publicitária segundo a qual os problemas do Brasil serão todos resolvidos se a oposição deixar o homem trabalhar.
Ao trabalho, portanto.

Eu odeio o Lula

Eu odeio o Lula. Eu sou o anti-Lula. Ele também me odeia. Sou tudo o que ele não quer ser; ele é tudo do que tenho ojeriza em termos políticos.
Assim, a partir de meu primeiro palanque resolvi fazer a cria crescer e criei esse, que será o centro das críticas políticas a "tudo isso que está aí", usando o termo preferido do partido da estrelinha, e que a classe média-baixa, média e média-alta ajudaram a eleger e a reeleger, acreditando que isso aí tem sido a melhor opção política "desse país" nos últimos anos (e que na verdade vêm sendo enganadas por marqueteiros que têm conta no exterior - o SEU dinheiro).
Tudo aqui é intencional: do branco do site (o que menos se vê no governo hoje...) aos textos publicados. A responsabilidade disso tudo aqui é minha.
A intenção é publicar artigos e reportagens da mídia, além de opiniões minhas.
Convido todos, inclusive os petistas e os lulistas...divirtam-se.