Wednesday, December 27, 2006

O Apagão Aéreo

O governo Lula é o do Apagão Aéreo gente!! Olha só que legal!!
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O Estado de S. Paulo, 27/12/2006

É possível que tempos depois de superada a crise do apagão aéreo - e temos fé em que um dia ela será superada - este período ficará marcado, na história da administração pública brasileira, como aquele em que se deu uma produção volumosa de desculpas como “nunca antes neste país”, para usar expressão tão do gosto presidencial.

Depois da tragédia do Boeing da Gol, que matou 154 pessoas, se tentou responsabilizar os pilotos do Legacy e se reagiu, com veemência nacionalista, contra o jornalista estrangeiro que sugeriu falhas no sistema de controle do tráfego aéreo brasileiro. Falou-se na falha, real, de equipamentos de rádio, mencionou-se o problema das “zonas de sombra” da cobertura de radar - o que existe em várias partes do mundo. Veio a “operação-padrão” dos controladores, vieram os constantes atrasos e cancelamentos de vôos - a média de 30% de vôos atrasados já é ocorrência rotineira há semanas - e, numa conseqüência “natural” da crise, chegou-se ao caos completo às vésperas do Natal, com o castigo brutal imposto às pessoas e famílias que cometeram a ousadia de viajar de avião nestes tempos de apagão.

Crianças doentes perderam - de novo - a possibilidade de receber a tempo órgãos para transplante; pais perderam casamento de filho; famílias não puderam chegar a tempo do enterro de entes queridos; outras passaram a noite da véspera de Natal em hotéis próximos aos aeroportos, por terem tido seus vôos cancelados ou perdido suas conexões; outras ainda passaram dezenas de horas em aeroportos - para não mencionar o que até passou a ser considerado problema de somenos: as mais de 3 mil malas extraviadas e “perdidas” nos saguões dos aeroportos. A desculpa dada, neste último caso, é o fato de muitas etiquetas de bagagem terem sido colocadas em nome das empresas de turismo e não dos passageiros. Essas foram algumas das conseqüências dos atrasos e cancelamentos de vôos em cascata.

Quanto ao caos natalino, o governo resolveu atribuir plena responsabilidade às companhias aéreas, especialmente a TAM, que detém, desde a virtual falência da Varig, a maior quantidade de vôos comerciais do País. Não que as companhias aéreas estejam isentas de responsabilidades na tremenda bagunça em que se transformou a aviação comercial brasileira. O deslocamento de aeronaves para os vôos fretados e, especialmente, a venda de bilhetes acima do número de assentos disponíveis - o famigerado overbooking - contribuíram, e muito, para o agravamento da situação.
O problema essencial, no entanto, é que o governo, desde o início do apagão aéreo, se preocupou em formular sucessivas tentativas de explicação da crise, mas pouco fez para a sua efetiva solução.

Antes, pelo contrário, agravou a crise com diagnóstico e tratamento equivocados, a começar pela questão dos controladores do tráfego aéreo, pois desde o início tentou tratar como assunto trabalhista um problema de natureza essencialmente militar. E jejuno nesses assuntos, bem como em relação a outros temas de sua Pasta, o ministro da Defesa, em vez de dar solução, torna-se um dos fatores de agravamento da crise.

Anuncia-se que, agora, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) inicia uma auditoria na central de reservas da TAM, tendo em vista impedir o overbooking. Ora, essa deveria ser uma obrigação rotineira da agência governamental, e a fiscalização deve ser feita não em uma, mas em todas as companhias aéreas. O overbooking deve ser coibido, pois significa um desrespeito aos passageiros, quando não um estelionato. Mas jogar nos ombros das companhias toda a responsabilidade pelo apagão equivaleria a culpar, exclusivamente, os caminhoneiros pela situação calamitosa das estradas em que trafegam.

É verdade que, além da profusão de desculpas, o governo tem buscado algumas soluções paliativas, tais como o deslocamento de aviões da FAB para atendimento dos infelizes passageiros “embarcados sem avião” (quer dizer, sem assento, sem conexão e às vezes até sem bagagem). Dispensável seria repetir a obviedade: uma medida paliativa não é solução para uma crise aguda, que vai se transformando num problema crônico. Enquanto o governo não subordinar os sargentos controladores de vôo à disciplina militar - que foi claramente quebrada -, a crise não terá solução.

Lula e Garotinho são gêmeos, ataca Maia

O prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (PFL), chamou o presidente Lula e o ex-governador Anthony Garotinho (PMDB) de “politicamente gêmeos” e listou as semelhanças que vê entre os dois adversários em seu boletim eletrônico de análise política. 'O mensalão é a cara do governo Lula. As maquininhas são a cara do Garotinho. O apagão aéreo é a cara de Lula. A quebra do Estado é a cara de Garotinho', exemplificou Maia. O prefeito carioca atacou os dois políticos pelos escândalos envolvendo a publicidade em seus governos e pelas políticas desenvolvidas pelos dois, que considera assistencialistas.

Lula se distancia da equipe econômica

Salve-se quem puder
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Cristiano Romero, Valor Econômico, 27/12/2006

A impressão que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem deixado em seus interlocutores é a de que não vai tolerar, no segundo mandato, a deterioração das contas públicas. Quando toma decisões, no entanto, é exatamente o que faz, comprometendo a sua própria aspiração, qual seja: a de acelerar o crescimento da economia nos próximos anos.

Conversar com Lula hoje em dia não o influencia tanto. Nas últimas semanas, o presidente teve longas conversas com o ex-ministro Delfim Netto, o empresário Jorge Gerdau, o consultor Luciano Coutinho. Com diferenças aqui e acolá, todos defenderam maior rigor fiscal e todos saíram com a impressão de que Lula, no fundo, é um governante conservador do ponto de vista fiscal. Em geral, seus convidados disseram a ele que a agenda do crescimento depende do controle dos gastos correntes, do contrário, o governo não terá como baixar a carga tributária e, assim, estimular o investimento privado.


Na hora de agir, Lula tem dado pouca ou nenhuma importância aos conselhos que ouve. Na verdade, o presidente não está dando ouvidos nem mesmo ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. O caso do aumento do salário mínimo para R$ 380, acima do que recomendou a equipe econômica, deixou isso claro e explicitou uma nova forma de agir.


Mantega defendeu, em várias ocasiões, que o mínimo deveria subir de R$ 350 para R$ 367, um reajuste nominal de 4,8%, superior, portanto, à inflação de 3% do período. O aumento corresponderia à aplicação da fórmula estabelecida por governo e o Congresso na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) - inflação mais variação do PIB per capita. Seu impacto negativo líquido (já descontado o aumento da arrecadação das contribuições) nas contas da previdência social seriam, segundo cálculos da consultoria econômica da Câmara dos Deputados, de R$ 2,890 bilhões. Um efeito considerável sobre um déficit que não pára de crescer - neste ano, deve chegar a R$ 42 bilhões.


No Congresso, a equipe econômica percebeu que, politicamente, seria difícil limitar a elevação do mínimo para R$ 367. Trabalhou, então, para segurar o valor em R$ 375 (impacto líquido negativo no INSS de R$ 4,250 bilhões). Numa reunião com as centrais sindicais, sem a presença dos ministros da área econômica, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, fechou o valor em R$ 380 (impacto na previdência de R$ 5,1 bilhões).


Mantega chegou a desmentir que R$ 380 fosse o valor definido pelo governo, mas, depois, soube-se que Marinho negociou com as centrais tendo o apoio irrestrito do presidente. A imagem da derrota de Mantega é forte: enquanto ele dizia, antes de audiência no Senado, na quarta-feira, que o assunto ainda não estava decidido, Lula autorizava Marinho a anunciar o novo salário mínimo.


O presidente mostrou, no episódio, que, para ele, acabou a era dos ministros da Fazenda fortes. Ou então que acabou o tempo em que presidentes da República são reféns de ministros da Fazenda. É essa a mensagem. Sem nenhum constrangimento, Lula atropelou, na forma e no conteúdo, o comandante da economia. Em declarações públicas, muito à vontade, disse que quem manda é ele.



Somam-se partidos na base aliada; falta agenda


O sinal é negativo. Num país de instituições frágeis, o Ministério da Fazenda é uma estrutura forte, respeitada e, geralmente, até admirada pela população. Seus titulares são potencialmente candidatos à presidência. Por isso, como dizia Mário Henrique Simonsen, não existe ministro da Fazenda forte ou fraco; existe ministro da Fazenda. Para a sociedade, é importante que o ministro da Fazenda seja ouvido pelo presidente. Lula parece decidido a mudar isso, a torná-lo numa voz tão importante quanto, por exemplo, a do ministro do Trabalho.


Quando elevou o salário mínimo para R$ 350, em decisão tomada no fim de 2005, o presidente deu ao piso salarial brasileiro o maior poder de compra em 40 anos. Isso, claro, só foi possível porque a inflação, em quatro anos, caiu de 12,5% para 3,1% (estimativa do Banco Central para 2006). Essa combinação de aumento real do salário mínimo e inflação baixa é reputada, pelo próprio presidente, como a força-motriz de sua reeleição.


É justamente isso que torna incompreensível a decisão recente de dar mais um aumento robusto ao salário mínimo. Mesmo depois de amargar quase um ano e meio de aguda crise política, Lula ganhou a eleição de forma consagradora. Acumulou capital político, inclusive, para tomar medidas impopulares. Elevar o salário mínimo, com repercussões negativas sobre o déficit da previdência social, a carga tributária e, em última instância, sobre o pacote que pretende adotar para estimular o crescimento da economia, contradiz o momento político vivido pelo presidente.


Sem ministros fortes ao seu lado e sem assessores que lhe apontem os riscos de determinadas opções, Lula tem atuado de maneira errática. Reeleito há dois meses, não tem ministério nem projeto para o segundo mandato. Assim mesmo, está às voltas com a formação de uma maioria esmagadora no parlamento, em que se somam partidos aliados, mas falta agenda legislativa ousada.


O presidente já descartou, por exemplo, a proposição de uma nova reforma da previdência e a regulamentação da emenda 29, que trata dos gastos com a Saúde. Medidas impopulares ele só propõe se o Congresso e os setores organizados da sociedade concordarem em dividir o ônus político. "Governo de coalizão é para aprovar reformas. Para aumentar o salário mínimo, não precisa", ironiza um ex-ministro de Lula, preocupado com a falta de rumo do governo.


Governistas alegam que a agenda existente no Congresso já é "pesada". Sabe-se, porém, que os parlamentares sempre aprovam a prorrogação da CPMF e da DRU. A diferença está no preço político cobrado. Governos fracos pagam caro; governos fortes, não. Do jeito que vai, o que Lula está montando é uma frente anti-impeachment e não uma base política consistente para aprovar no parlamento uma agenda pró-crescimento.

Saturday, December 23, 2006

Fábula capital

Diogo Mainardi, Veja, ed. 1987


Arrumem outro colunista. Passei o ano tentando derrotar o Lula. Fracassei. Eu e mais quatro ou cinco panfleteiros da grande imprensa. Primeiro espalhamos que os petistas roubavam. Ninguém acreditou em nossa mentira. Depois lançamos a candidatura de Geraldo Alckmin, em vez de José Serra, embora o segundo aparecesse nas pesquisas com o dobro dos votos do primeiro. Quem eles pensam que a gente é? Eles pensam que a gente acredita em pesquisas compradas?

Engabelar os ricos é moleza. É o que demonstra a história da humanidade. Muito mais difícil é engabelar os pobres. Forjamos reportagens e mais reportagens. O eleitorado rico logo se rendeu a nós. O eleitorado pobre, dotado de maior discernimento, aquele mesmo discernimento que sempre o levou a fazer as escolhas certas, percebeu o engano e continuou fiel a Lula. Os mais obstinados foram os analfabetos, sobretudo os nordestinos, que se recusaram terminantemente a ler minha coluna e a votar em Geraldo Alckmin, mesmo que de nariz tapado.

Quando percebemos que Lula venceria no primeiro turno, foi um corre-corre danado. Alguém sugeriu organizar um golpe. A proposta foi aceita unanimemente. Um de nós pensou em implicar o chefe da máfia dos sanguessugas. Passamos uns documentos falsos para os broncos do Palácio do Planalto e mobilizamos nossos agentes da Polícia Federal. Com o apoio do resto da imprensa, denunciamos os broncos do Palácio do Planalto e viramos o jogo na última semana de campanha eleitoral. O acidente da Gol, possivelmente engendrado pelo aparato petista, quase atrapalhou nossos planos, desviando o foco dos telespectadores. Mas reagimos a tempo e impedimos que o Jornal Nacional desse a notícia.

Lula ganhou mesmo assim. Apesar de nossas tramóias. Apesar de nosso golpismo. Luis Fernando Verissimo recriminou os ricos por se recusarem a ser governados pelos pobres. Eu sou o retrato disso. Jamais poderei me conformar à perda do poder, depois de 500 anos de supremacia incontrastada. Estou até respondendo judicialmente pelas calúnias que pronunciei contra os pobres membros da classe trabalhadora da Previ, da Petros e do Funcef. A Previ tem um patrimônio líquido de 100 bilhões de reais. O da Petros é de 30 bilhões. O do Funcef é de 25 bilhões. Fui acusado de ofender esses pobres trabalhadores de "forma covarde".

Que fique claro: nunca fui rico. Que fique igualmente claro: nunca mandei em ninguém. Mas os petistas garantem que sou a voz do dono. E o dono é rico e manda num bocado de gente. Se Carlos Heitor Cony até hoje é conhecido como Manchetinha, por ser a voz de Adolpho Bloch, eu devo ser o Abrilzinho. Falei com o dono da Abril apenas uma vez na vida, num almoço. Os temas tratados foram etimologia e Tiazinha. Mesmo assim, os petistas dizem que tento interpretar seus desejos e editorializá-los em minha coluna.

Eu e os outros panfleteiros da grande imprensa ficamos baqueados com a vitória esmagadora de Lula. Aguardem: um dia a gente volta.

Porcentagens lulistas

Diogo Mainardi, Veja ed. 1988


Se Lula é o povo e o povo é Lula, é bom saber como pensa o povo. Alguns dias atrás, o Ibope divulgou que 71% dos brasileiros aprovavam Lula. Os lulistas comemoraram o resultado. Em dezembro de 1998, 58% dos brasileiros aprovavam Fernando Henrique Cardoso. O povo aprova o presidente. Quem quer que ele seja.

Outra pesquisa do Ibope indicou que 75% dos brasileiros podem ser considerados analfabetos, demonstrando incapacidade para compreender um enunciado simples. Na pesquisa anterior, o porcentual era ligeiramente maior: 76%. A escrita foi introduzida no Brasil há mais de 500 anos. Logo conseguiremos dominá-la.

Ao mesmo tempo em que 75% dos brasileiros podem ser considerados analfabetos, 84% declararam estar satisfeitos ou muito satisfeitos com a qualidade do ensino público. 75% dos pais e alunos pediram apenas uma mudança no currículo escolar: o ensinamento do criacionismo no lugar do darwinismo.

O Ibope mostrou também que 96% dos brasileiros desconheciam o significado do termo holocausto. 37% declararam repudiar a idéia de ter um vizinho judeu. O número só foi inferior aos que disseram repudiar a idéia de ter um vizinho cigano – 51%.

Indagados sobre o meio de transporte mais seguro, 51% dos brasileiros escolheram o ônibus. Segundo uma pesquisa do SOS Estradas, os acidentes com ônibus matam cerca de 2.400 pessoas por ano no Brasil.

82% dos eleitores manifestaram seu descontentamento com a democracia. A maior parte deles se encontrava no Nordeste, nas camadas de menor escolaridade e renda.

De acordo com os dados do Ibope, 83% dos brasileiros se consideraram satisfeitos ou muito satisfeitos com a vida. O número é duas vezes maior do que o total de pessoas atendidas pela rede de esgoto – 40%. Há felicidade sem esgoto.

Uma pesquisa realizada entre os leitores de Época elegeu Chico Xavier como o maior brasileiro de todos os tempos.

Pela primeira vez em catorze anos, aumentou o trabalho infantil no Brasil. Segundo a mais recente pesquisa do Pnad, o total de crianças empregadas passou de 7,33% em 2004 para 7,8% em 2005. Ignora-se se elas estavam entre os 89% de brasileiros otimistas ou muito otimistas quanto a 2007.

Lula é o povo. O povo é Lula. Os lulistas recomendam que a imprensa siga o povo. Seguindo o povo, ela seguirá Lula. O lulista Bernardo Kucinski argumentou: "Os colunistas se engajaram ativamente na campanha contra Lula. Isso é um fato. Lula foi eleito por ampla maioria. É outro fato. E os dois fatos apontam para um descolamento dos colunistas em relação ao sentimento da maioria da população".

Nestes tempos de lulismo, estou cada dia mais incapaz de entender um enunciado simples.

A herança populista

Dora Kramer, 23/12/2006

O presidente Luiz Inácio da Silva diz que não, seus ministros dizem que sim, mas se é verdade que o governo adiou o anúncio do pacote do crescimento para rever as contas, por causa da decisão de Luiz Inácio da Silva de dar um aumento maior que o previsto para o salário mínimo, significa que o presidente decidiu sem examinar previamente as contas.

Quer dizer, um gesto de generosidade para com a própria popularidade, indicativo de que, sem o freio de mão seguro por Antonio Palocci e companhia, atos de governo no segundo mandato obedecerão à lógica emocionalmente simplificada do “vamos que vamos”, em detrimento da racionalidade.
É claro que, como diz o jogador manhoso, as conseqüências vêm depois.

E como não se sabe se o “depois” alcançará Lula ainda na Presidência, os postulantes ao cargo em 2010 são, desde já, sérios candidatos a pagar o pato. Político, inclusive.
Mestre no manejo dos símbolos e dos fatos, Lula quando assumiu só falou na herança maldita. Da bendita, legada por seus antecessores e que permitiu a ele trafegar bem na economia, valer-se dos efeitos de longo prazo nas mudanças estruturais realizadas desde a redemocratização e terminar reeleito avaliado como o melhor presidente de todos os tempos, desta Lula apropriou-se como realização sua.

Os especialistas, e os meros observadores também, alertam todos para o risco de a maneira impensada como o presidente começa a fazer as coisas, agora que se sente o dono absoluto de um jogo que considera ganho, provocar sérios retrocessos e transformar ganhos acumulados ao longo de anos em perdas paulatinas de difícil recuperação.

Se as crises contratadas nos setores de energia, agricultura, contas públicas e outros mais não estourarem dentro do período do segundo mandato, em 2010, Lula poderá entregar o governo ao sucessor jactando-se do sucesso, fazendo um balanço de “casa arrumada”.

As conseqüências, porém, não tardarão. Ao próximo presidente não será fácil assumir com o discurso repetitivo da herança maldita. Naquela altura, o argumento estará totalmente gasto. Quando os problemas começarem a aparecer de forma eloqüente - na agricultura, por exemplo, com aumento nos preços dos alimentos e, conseqüentemente, da inflação - parecerá à população de modo geral que ele os criou.

Recebeu de Lula um país fantástico e destruiu sua obra. Isso não tem nada a ver com os fatos reais, pois os números e as análises detalhadas poderão provar o contrário.
Mas, como sabem os mais atentos e menos afoitos, a avaliação popular em pesquisas, o sentimento geral de conforto ou desconforto, guarda distância abissal da razão e da objetividade.

E, assim, Lula poderá finalizar seu segundo mandato com o lance mais espetacular de sua competente gestão publicitária: ser julgado pelo que não fez de bom e absolvido pelo que fez de mau.